segunda-feira, 23 de junho de 2014

SUBSTÂNCIAS USADAS NO DIA A DIA CAUSAM DANOS CEREBRAIS A BEBÊS

SUBSTÂNCIAS USADAS NO DIA A DIA CAUSAM DANOS CEREBRAIS A BEBÊS  

 Em seu estágio inicial de desenvolvimento, o cérebro do feto é particularmente vulnerável a produtos químicos. A exposição de grávidas a determinados agentes tem sido associada a quocientes de inteligência (QI) mais baixos e a transtornos psíquicos em crianças. É difícil precisar quanto essas substâncias interferem no sistema nervoso em formação, pois isso depende de vários fatores, como predisposição genética e quantidade de exposição.

Pesquisas recentes, porém, têm conseguido predizer os efeitos negativos de alguns componentes, entre eles os éteres difenil-polibromados (PBDEs), usados nas últimas duas décadas como retardadores de chamas em objetos como tecidos de cortinas, colchões, carpetes, móveis e eletrônicos. São substâncias que têm um “talento”pouco comum para permanecer no ambiente. Tanto que a Agência de Proteção Ambiental americana os classifica como poluentes orgânicos persistentes (Pops). Os PBDEs acumulam-se no corpo, principalmente em estruturas ricas em tecidos gordurosos, como o cérebro. Alguns estudos revelam ações dos PBDEs e seus metabólitos (produto de seu metabolismo pelo organismo): interferem, por exemplo, na regulação dos hormônios da tireoide, crítico para o desenvolvimento do cérebro no útero e nos primeiros meses de vida do bebê.

Um trabalho publicado em 2013 na Toxicological Sciences mostra que o PBDE-47 prejudica o crescimento de novos neurônios em adultos – processo importante para aprendizado e memória. Os efeitos sobre o cérebro em desenvolvimento, no entanto, são ainda mais sensíveis. A pesquisadora de saúde ambiental Julie Herbstman, da Universidade Colúmbia, descobriu que crianças de mães com alta concentração de PBDEs no sangue do cordão umbilical pontuaram menos em testes de desenvolvimento mental na primeira infância.

Há também evidências de relações dessas substâncias com sintomas de autismo. A microbióloga Janine LaSalle, do Instituto de Investigação Médica de Transtornos do Desenvolvimento da Universidade da Califórnia, estuda como os PBDEs e outros poluentes orgânicos influenciam o desenvolvimento fetal em termos moleculares. Ao pesquisar tecidos cerebrais de adultos diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA), ela descobriu uma quantidade anormal desses componentes. Eles se concentravam mais nas amostras provenientes de pessoas com tipos de autismo relacionados à participação significativa de fatores genéticos.

Janine testou também os efeitos dos PBDEs em ratos com a mutação genética associada à síndrome de Rett, cujos sintomas são muito semelhantes aos do autismo - como problemas no desenvolvimento da linguagem verbal, movimentos repetitivos e compulsivos e deformidades físicas como mãos e cabeça pequenas, e bem mais comuns em meninas. Ratos que receberam doses diárias de PBDEs, equivalentes à exposição humana média, tiveram fêmeas com déficit de habilidades sociais e comportamentais semelhantes aos sintomas de Rett. Segundo a microbióloga, isso ocorre por causa de uma metilação (modificação química) do DNA. Distribuídos sobre cada fita de DNA em nossas células, grupos metila influenciam a expressão de nossos genes – por exemplo, ligando genes que constroem neurônios no cérebro. Janine observou que o tecido cerebral de pessoas com autismo é significativamente submetilado – bem como o de filhotes de ratas expostas a PBDEs.

Mas, de acordo com a pesquisadora, essas substâncias não interferem na metilação do DNA em qualquer circunstância. Ela usa a metáfora de um recipiente se enchendo de água (ver imagem abaixo) para explicar que é preciso haver uma soma de fatores de risco para que o desenvolvimento cerebral seja afetado. Por exemplo, a exposição a PBDEs pode ser considerada um fator de risco para Rett apenas se uma gestante carrega a mutação genética associada à síndrome. Rett e diversos tipos de autismo surgem, na visão atual da ciência, de uma interação complexa entre fatores endógenos e ambientais. PBDEs são, assim, uma influência ambiental a mais que contribui, usando a metáfora anterior, para fazer a tina transbordar.



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segunda-feira, 9 de junho de 2014

O médico de casas

É preciso conhecer o geobiólogo Allan Lopes, de 37 anos, para ter certeza de que nem só os poetas podem ter uma casa arrumada ou constantemente amanhecendo. Allan é uma espécie de médico de casas ou biólogo da construção, que avalia e faz o diagnóstico da qualidade interna do ar, temperatura, som, iluminação, ondas eletromagnéticas e radioativas que podem estar interferindo no bem-estar e na saúde dos moradores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 60% das edificações empresariais e 30% das casas têm potencial para gerar doenças, inclusive o câncer.
Criador da Casa Saudável, ele defende que toda construção é um ser vivo, composto de uma anatomia e de uma fisiologia particulares, que proporcionam benefícios ou não ao ambiente – e que interferem diretamente na qualidade de vida dos moradores e dos funcionários de uma empresa. “Casa Saudável é a concepção da habitação como um agente da saúde de seus moradores. É o enfoque positivo da biologia da construção, também conhecida como geobiologia. A nossa preocupação é olhar a casa como fonte de saúde e não de doenças. Passamos a ver nossa habitação como uma terceira pele, das cinco que temos. A primeira é a orgânica, que cobre o corpo. A segunda são as  vestimentas, que devem ser tão seletivamente permeáveis quanto a primeira. A terceira pele é a nossa casa. A quarta, nossa cidade, vila, lugarejo. E a quinta, e mais abrangente, a  Terra, casa em que todos habitamos. Todas essas cinco peles devem trabalhar em conjunto e são partes de um único organismo”, explica Allan.
Terceira pele
A casa – ou a terceira pele –, afinal, é um dos locais mais importantes para uma pessoa. É lá que ela descansa depois de um dia cheio de trabalho, reúne os amigos, vive momentos românticos ao lado de quem ama ou simplesmente repõe as energias e se prepara para o dia seguinte. A casa é como um ninho, onde as pessoas voltam para se abrigar, se nutrir, se reabastecer e se aquecer para a luta diária. “A casa é onde moram os nossos sonhos”, garante Allan.
Ele não se cansa de divulgar a geobiologia, “que é um ramo da ciência e um resgate do conhecimento das antigas civilizações romanas e egípcias, mas que só ficou conhecida no início do século XX, quando alguns médicos europeus começaram a suspeitar da existência de uma relação direta das doenças de seus pacientes com as casas onde moravam”.
Um dos precursores da geobiologia no Brasil, Allan é um desses guerreiros que têm a coragem de abraçar causas para uma vida mais saudável do planeta e das pessoas, “fazendo-as pensar no que é ser e estar neste mundo por um brevíssimo período de tempo”.  
O uso de pedras para redistribuição espacial de energia promove bem-estar no ambiente - Foto: Aline Mendes
Faxina existencial
Entrar na sede da Casa Saudável, na Rua Pouso Alto, em Belo Horizonte, é compreender o que Allan fala. Em um agradável sobrado no bairro Serra, o geobiólogo pratica o que ensina. As janelas sempre abertas para o vento indicam que ele também está com a alma limpa e ventilada. “Todas as vezes que eu abro as janelas da casa também estou descortinando as da alma, deixando a vida entrar e me abençoar por mais um dia, mais uma oportunidade de ser e de existir. Todas as vezes que limpo minha casa também tiro de mim toda a poeira acumulada e o mofo. Faço faxina de toda a sujeira emocional. Sempre que trago para a minha casa novas pessoas, objetos e flores estou também me abrindo para o novo, para o outro, para a capacidade de crescer e de evoluir com a vida e com tudo o que ela traz de bom. Bons ventos sempre trazem inspiração.”
Allan tem muito cuidado com o lugar onde vive e trabalha. “Queremos que, por meio de nossas moradias, o mundo nos sorria e traga tudo o que há de melhor para ser vivido.” E dá dicas importantes que podem ser adotadas por qualquer um.
A primeira preocupação do geobiólogo para ter uma casa saudável é deixá-la livre de tralhas, ou seja, desapegar do passado e abrir espaço para o novo e para que o futuro se manifeste no presente. Ele sugere jogar fora tudo o que não serve mais, ou como ele prefere dizer, “destralhar”, por meio de uma técnica simples e eficaz.  É só escolher uma gaveta, uma área do guarda-roupa ou um quarto da casa. Pegar, então, cada objeto daquele espaço e se perguntar: “Eu uso isso?”. Se a resposta for sim, guarde de volta aquele objeto, mesmo que você use apenas no inverno ou nas férias. Se a resposta for não, então, faça uma segunda pergunta: “Eu amo esse objeto?”. Caso diga sim, mantenha o objeto. Pode ser uma lembrança de alguém ou um momento querido, que tenha algum valor pessoal importante e dá força para lembrar quem somos. Mas, se a resposta a essa segunda pergunta também for não, seja impiedoso. Jogue fora, dê imediatamente para alguém que precise ou venda sem demora.
Allan garante que “o acúmulo de objetos sem utilidade e sem significado emocional pode favorecer o desenvolvimento de conflitos emocionais e até da depressão em quem já possui essa tendência, ou dificultar o tratamento da doença”.
Não deixe que pensamentos do tipo “mas eu posso precisar um dia”, ou “mas eu já guardo isso há tanto tempo para o dia em que…” tomem a dianteira. Desfaça-se desse objeto, pois ele tem impedido você de viver o que precisa. Ele o tem mantido na zona de conforto, no mundo onde você conhece e controla tudo, mas que nada muda, evolui ou melhora. Então dê adeus ao objeto sem uso e sem afeto!
Recordações
A sede da Casa Saudável, na capital mineira, tem vários ambientes cleans e iluminados naturalmente - Foto: Divulgação
Casa Saudável também incorpora lembranças afetivas na decoração. A sugestão de Allan é colocar em casa o máximo de objetos que contam histórias importantes da vida de cada um. Fotos do casamento, dos filhos ainda bebês, de quando eram adolescentes, e assim por diante. Tire esses elementos do armário e das gavetas e coloque para fora, pois somente assim eles poderão lembrar quem você realmente é. A Casa Saudável está sempre repleta de boas energias, com reflexos em você mesmo e em todas as pessoas que vivem, frequentam ou são vizinhas de seu lar.
O ideal é contratar um especialista, mas você pode começar fazendo limpezas energéticas na sua casa. Pegue, por exemplo, um litro de álcool e coloque um pouco de ervas, como hortelã, lavanda e outras que você goste. Deixe ali por um dia e depois borrife pela casa. Vale lembrar que o spray não deve ser aspergido na direção de móveis ou quadros, pois pode manchar os objetos. Para amenizar essa tendência, dilua um pouco da mistura em água. Ou coloque na água que será usada para passar no chão. Isto deverá manter sua casa com um mínimo de equilíbrio energético, para que você possa seguir livre e feliz pela vida.
Na sala da Casa Saudável, os moradores devem evitar carpetes, substituindo-os por piso de bambu ou madeira. Nem pensar em estofados e almofadas sintéticas, que devem ser trocados por similares de material natural, como os futons japoneses. Ele avisa que os materiais sintéticos liberam substâncias tóxicas no ar.
A cozinha da Casa Saudável é sempre um local de alquimia. Portanto, dispense o uso de detergentes que contaminam o leito dos rios. Prefira o sabão ou faça uma receita especial para limpar vasilhas e louças. Em um litro de água morna, coloque duas colheres de bicarbonato de sódio, quatro de vinagre branco, meio copo de suco de limão. Ou, se preferir, adicione óleos essenciais.
Os filtros de carvão aditivado são mais aconselháveis, pois aumentam o pH da água, tornando-a alcalina, ideal para o organismo funcionar bem. Allan também sugere evitar o uso de microondas, pois esses aparelhos desvitalizam os alimentos, além de causar poluição eletromagnética.
As plantas são ótimas companhias da casa saudável, pois filtram o ar. As folhas, porém, devem ser limpas com pano e água para evitar o acúmulo de poeira. E não deixe água nos vasos, para não atrair o mosquito da dengue. Respeitar as condições de luz, rega e temperatura de cada espécie é fundamental.
Allan também decora a casa com fotografias de momentos felizes e importantes: olhar para essas fotos faz despertar os bons sentimentos do momento em que elas foram tiradas. Na mesa de trabalho, ele tem sempre ametistas, pois além de enfeitarem, são pedras que favorecem a compreensão e o acordo. Em uma mesa de trabalho individual, o ideal é usar uma de, no mínimo, 15 centímetros por 10. 
Escrever as intenções da casa ou da empresa faz bem à saúde de ambas: “Escreva ou represente com desenhos os aspectos positivos que expressem o que deseja, como amor, gratidão, união e sucesso. Depois coloque em algum lugar visível para que sirva como um lembrete e um incentivo, para você mesmo e para todas as pessoas que frequentam o local”.
Ele ilumina o escritório com lâmpadas amarelas, como as incandescentes e as frias de espectro total/luz do dia. O espectro amarelo estimula a criatividade e a produtividade. Além disso, as outras lâmpadas em geral sobrecarregam o ambiente com irradiações eletromagnéticas. Allan também evita o uso de piso sintético, por liberar toxinas e gerar eletricidade estática, além de roubar a energia do corpo humano, resultando em aumento de cansaço.
Ar-condicionado? Só se for imprescindível. Mesmo assim, troque os filtros a cada seis meses. Ele lembra que a ventilação natural é sempre a melhor. E que as tintas à base de água ou da linha hospitalar são mais saudáveis, pois as outras liberam substâncias tóxicas no ar.
No escurinho
Quarto escuro colabora para um sono mais profundo - Foto: Roger Kirby/Freeimage
Atenção para o quarto que, segundo o geobiólogo, é um dos lugares mais importantes de uma casa saudável. Procure usar camas de madeira, nunca de metal. Colchões de mola, de água ou magnetizados devem ser evitados sempre que possível. Os mais indicados são os colchões feitos de matéria-prima natural, como o bambu. “Para um sono revitalizante, mantenha o quarto totalmente escuro. A entrada de qualquer quantidade de luz impede que o organismo atinja a profundidade de sono necessária para renovar as energias.”
Evite também os aparelhos de TV, computadores e celulares dentro do quarto e distancie-os ao máximo da cama. Desligar da tomada os aparelhos eletrônicos quando não estiverem em uso é outra boa sugestão, pois está comprovado que a radiação eletromagnética do celular, por exemplo, é emitida pela antena acoplada ao aparelho. Essa radiação tem uma frequência maior do que as usadas em rádio.

Matéria retirada do site: www.revistaecologico.com.br/